A porção de Miketz começa com a discussão sobre o momento após os dois anos adicionais em que José esteve na prisão, por um total de doze anos, por um crime que não cometeu. Então, José finalmente sai e, portanto, deveria ser um momento feliz.
No entanto, a porção começa com a palavra vayehi, que conota algo negativo. Por quê?
A razão, explicam os kabalistas, e há alguns entendimentos sobre isso, é que José, por seu próprio processo espiritual, purificação e correção, deveria ter ficado na prisão por apenas dez anos e não doze. A porção de Miketz começa no final desses dois anos, então o que há de especial sobre eles?
No final da porção anterior, Vayeshev, José está na prisão com o copeiro e o padeiro do Faraó, e eles têm sonhos que José os interpreta. Ele interpreta para o padeiro que ele será enforcado e para o copeiro que ele voltará ao seu cargo. José pede ao copeiro que, por favor, lembre-se dele ao Faraó quando ele voltar à sua posição, para ajudá-lo a ser libertado da prisão. No entanto, no último verso da porção anterior, Vayeshev, o copeiro não se lembra de José.
O entendimento literal dessa história, portanto, é que José cometeu um erro e não deveria ter pedido ao copeiro para ajudá-lo. E porque ele cometeu esse erro, e colocou sua confiança e certeza no auxílio do copeiro, foi como se ele fosse punido e pegasse mais dois anos de prisão. E assim, a porção Miketz começa com a palavra vayehi, porque os últimos dois anos são uma vergonha para ele devido ao fato de que José não precisaria ter ficado na prisão por aqueles dois anos.
José, ao que parece, cometeu um erro pelo qual foi punido e recebeu mais dois anos de prisão.
Mas não é assim que deve ser entendido. Há um conceito que os kabalistas ensinam que diz que uma pessoa é direcionada e pode ser conduzida no caminho que deseja ou decide seguir. No entanto, o perigo de fazer isso, de colocar nossa confiança e certeza nas pessoas, sejam elas um médico, advogado, amigo, consultor ou nós mesmos, é que, uma vez que escolhemos e decidimos que nossa assistência virá de uma pessoa, situação, ou de nós mesmos, é isso o que vai acontecer. E isso geralmente é uma escolha inconsciente.
José não sabia disso, mas o Criador estava pronto no último dia de seu décimo ano de prisão para libertá-lo. O Criador tinha tudo preparado. E não há nada de errado em José pedir ao copeiro para lembrar dele ao Faraó; o erro não foi pedir a ajuda do copeiro. Foi que ele, consciente ou inconscientemente, decidiu que o copeiro seria a forma como ele seria libertado.
Uma vez que José decidiu que o copeiro iria ajudá-lo e mencioná-lo na frente do Faraó, e que a maneira como ele sairia da prisão seria através do copeiro, então o Criador disse: “Eu queria ajudá-lo hoje, mas você não quer que eu o faça. E através da sua decisão, de que o copeiro irá ajudá-lo, você fez desse o seu caminho. Agora, não sei quantos anos vai demorar para que você saia.” Ao final, demorou dois anos devido às habilidades do copeiro; no entanto, a habilidade do Criador teria feito isso em um dia.
Quero deixar claro que José não estava sendo punido.
Não era que o Criador estava dizendo: “Porque você não confiou em mim e você confiou nele, vou puni-lo e deixá-lo lá por mais dois anos.” Não, o Criador estava dizendo: “Eu realmente quero ajudá-lo, mas você decidiu que a ajuda do copeiro é o seu caminho para a liberdade e eu tenho que obedecer à sua escolha. Portanto, quero ajudá-lo hoje, mas acontece que esse caminho vai levar dois anos.”
Muitas vezes, mesmo em nossas próprias vidas, há pessoas que vêm nos pedir ajuda, mas sabemos que não podemos ajudá-las agora, que elas têm que seguir seu próprio caminho, e talvez elas irão retornar. Acontece, infelizmente, na maioria das vezes, que uma pessoa pode vir até você e você sabe que para ela melhorar e ter sucesso, ela tem que fazer certas coisas.
Mas para elas, não há nenhuma maneira de estarem abertas para ouvir isso de você, então você não vai puni-las por não lhes dizer. Você apenas sabe que contar ou não a elas não fará diferença. Elas fizeram sua escolha e você tem que obedecer à sua escolha, e agora seu processo pode levar cinco, dez ou vinte anos.
Mais uma vez, para ser claro, não havia nada de errado em José falar com o copeiro e pensar que não era uma coincidência que ele estava entrando em sua vida e, em seguida, lhe pedir para falar com o Faraó. O problema estava no que José estava pensando quando fez esse pedido. O que ele deveria estar pensando era: “Não sei se você vai me ajudar. Eu não sei se isso vai acontecer de outra maneira.
Eu só quero que a Luz do Criador ajude. Eu não quero minha sabedoria, meu cérebro, minha lógica ou você.
Se o Criador deseja que essa pessoa seja o meu caminho, que seja ele. E se não, que seja outra pessoa. Porque eu só quero a ajuda do Criador – não minha lógica e não esta pessoa.”
Se José tivesse mantido essa clareza, ele teria sido libertado da prisão no último dia de seu décimo ano. Mas porque ele decidiu que o copeiro iria ajudá-lo, o Criador diz: “Eu quero dar a você mais rápido. Mas agora você tem que passar por isso.” Dois anos não era um castigo. Foi apenas um processo que José escolheu. E cada um de nós, todos os dias de nossas vidas, escolhe um processo cada vez que decidimos por um caminho, seja consciente ou inconscientemente.
Isso não significa que não devemos planejar e não significa que não devemos pedir ajuda a outras pessoas. Mas devemos fazer isso com a clareza de consciência de que não queremos que nossa própria lógica, essa pessoa ou esta situação seja de onde receberemos nossas bênçãos e assistência. Sim, usaremos a ajuda conforme ela vier, porque esta pode ser a maneira que o Criador deseja fazer, mas queremos apenas a ajuda do Criador.
Não colocamos nossa confiança nessa pessoa, nesta situação ou em nós mesmos; em vez disso, dizemos: “Sim, farei essas coisas porque talvez seja assim que o Criador deseja que aconteça. Eu mantenho minha certeza na Luz do Criador. Eu só quero a ajuda do Criador.” O Criador nunca nos pune dando-nos processos mais longos; Ele segue nossa decisão. Uma vez que tomamos a decisão de que uma pessoa, nosso eu ou nossa lógica é o que nos levará onde queremos estar – espiritual ou fisicamente, nos negócios, saúde e assim por diante – o Criador tem que obedecer a isso.
O Criador pode querer nos dar nossa bênção hoje, mas se escolhermos que uma determinada pessoa nos dê a bênção, então esse é o caminho que seguiremos, e pode levar cinco anos, dez anos, ou nunca vir através daquela pessoa, mas fizemos nossa escolha e o Criador tem que obedecê-la. E novamente, com José, o Criador não o puniu adicionando dois anos; é simplesmente que José colocou sua confiança no copeiro, e o Criador teve que obedecer a essa decisão.
A dádiva e a compreensão que queremos receber neste Shabat é nunca colocar nossa confiança em nada exceto na Luz do Criador. E, novamente, não significa que não usamos a lógica, não significa que não vamos a um médico, advogado, contador ou consultor. Mas temos que ter cuidado, porque é nossa natureza dizer: “É nisso que vou confiar. Isso faz sentido.
Este é o processo que eu escolho”, seja consciente ou inconscientemente.
Mas, uma vez que fazemos essa escolha, estamos dizendo à Luz do Criador: “Não entre aqui. É assim que vai funcionar.” E o Criador diz: “Eu adoraria dar a você essa bênção hoje. Eu adoraria dar a você uma bênção muito maior agora. Mas você escolheu este caminho. Você tem que seguir. E esse caminho pode levar você a uma bênção em cinco anos, ou em dez anos, ou nunca. Mas não posso interferir na escolha e no processo que você escolheu.”
Uma das coisas que queremos receber neste Shabat, portanto, é ter certeza de que não estamos bloqueando a Luz do Criador por meio de nossas escolhas. E o que isso significa é que, em cada decisão e escolha que fazemos, mantemos a clareza; “Não estou escolhendo que este seja o meu caminho para a cura. Não estou escolhendo que esse seja o meu caminho para o sucesso nos negócios.
Não estou escolhendo que este seja o meu caminho para o crescimento espiritual.
Eu acho que esta pode ser a maneira que o Criador deseja se manifestar agora, mas eu só quero a ajuda do Criador. Eu não quero a assistência de mais ninguém, nem mesmo a minha.” E quando mantemos essa clareza, o Criador pode derramar suas bênçãos sobre nós o tempo todo, muito mais rápido e melhor do que qualquer processo que escolhermos.
Nossa natureza nos levará a escolhas e caminhos. Todos os dias fazemos escolhas, todos os dias caímos na armadilha de colocar nossa confiança em outra pessoa, ou colocar nossa total confiança em nós mesmos, em nossas decisões ou em nossa lógica. O que isso faz é dizer ao Criador: “Você não pode me ajudar agora. Eu escolhi este caminho”, e o processo pode levar um ano, dez anos ou ser interminável.
Precisamos lutar contra isso e consistentemente dizer que só queremos a Luz do Criador. Sim, usaremos as ferramentas que estão à nossa disposição. Mas quando não colocamos nossa confiança em outra pessoa, situação ou em nós mesmos, permitimos que a Luz do Criador entre o tempo todo, imediatamente, com bênçãos cada vez maiores.
E com a ajuda do Shabat Miketz, recebemos essa dádiva de clareza para não escolher nosso caminho ou processo ao colocar nossa confiança em pessoas ou situações, e assim, não bloquearemos a Luz do Criador.