O Criador diz a Abraão, Lech Lecha, “Vá da terra” para Canaã, que é conhecida como Israel. Ele diz: “Eu farei de você uma grande nação.
Abençoarei aqueles que o abençoarem e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem. Farei você prosperar lá”. Assim, Abraão chega em Canaã, mas a fome acomete a terra, e ele não sabe o que fazer. Ele precisa decidir se deve ficar lá na Terra Prometida ou ir para o Egito, onde há comida. E ele escolheu ir para o Egito, deixar o lugar onde o Criador disse que ele deveria ir, onde o Criador disse que ele prosperaria e receberia suas bênçãos.
“Quantas vezes nos comportamos de maneiras que não são verdadeiras?”
É uma compreensão interessante. Não só Abraão foi instruído a ir lá pelo Criador, mas também lhe foi dito que prosperaria lá, então, quando ele se depara com a fome, cria, é claro, uma abertura para a dúvida. E é isso que acontece no caminho espiritual; uma abertura para a dúvida sempre tem que estar lá. Na verdade, antes de qualquer bênção importante, crescimento ou próximo nível que uma pessoa alcança, sempre haverá uma abertura para a dúvida.
A escolha que Abraão faz de partir e ir para o Egito é um assunto que tem sido discutido e analisado por kabalistas há milhares de anos. Foi uma decisão correta ou errada? Ele deveria ter mantido sua certeza mesmo enfrentando a fome e permanecido na Terra de Israel? Deveria ter tido certeza de que um milagre ocorreria para ele e que ele seria capaz de sustentar a si mesmo e à sua família? Ou, foi a decisão correta ir para o Egito?
A opinião de um dos grandes kabalistas espanhóis, Nachmânides, o Ramban, foi que Abraão cometeu um pequeno erro aqui; ao ir para o Egito, ele errou. Ele deveria ter permanecido na Terra de Israel e mantido a certeza, e um milagre de sustento teria vindo para ele.
“É melhor ser humilde, cair e ser verdadeiro.”
Então, como entendemos a decisão de Abraão? E, o que é mais importante, qual é a lição para nós?
Para responder a isso, gostaria de compartilhar uma seção do Talmude. Ele diz que os sábios, as grandes almas, estavam discutindo seu nível espiritual e onde estavam em seu desenvolvimento e crescimento. Cada um deles diz: “Comparado ao meu pai, sou como vinagre para vinho”, e eles relatam o quanto seus pais são mais elevados do que eles e onde estão falhando. Toda essa discussão é relativamente estranha.
Estamos falando de almas muito elevadas, pessoas que se esforçam para crescer e mudar, e ainda assim relatam suas falhas em comparação com as coisas que seus pais podem fazer, quando eles poderiam facilmente estar fazendo as mesmas coisas. Portanto, a questão é: se esses sábios acreditavam que os comportamentos e ações de seus pais eram mais elevados do que os deles, por que eles não agiam da mesma forma? A resposta nos leva a uma compreensão muito importante: a verdade.
Quando Rav Ashlag, o fundador do Kabbalah Centre, tinha cerca de sete anos, ele decidiu que nunca mentiria em sua vida. Ele ensina que uma pessoa não pode estar conectada à Luz do Criador se ela mente ou vive na mentira. É uma das coisas que meu pai, Rav Berg, me disse quando eu era muito, muito jovem. Então, o que é melhor – agir como se você fosse elevado, ou mostrar e agir como o seu verdadeiro eu?
Quando os sábios diziam: “Sou como vinagre para o vinho em comparação com meu pai”, eles estavam essencialmente dizendo: “Sim, eu posso agir como ele fez, mas não estou no nível em que ele estava. Portanto, é melhor cair e ser verdadeiro do que mentir e agir de forma elevada”. Por quê? Porque a verdade é a base da nossa conexão com a Luz do Criador.
Abraão sabia que a coisa certa a fazer era permanecer em Canaã, mas também sabia que não tinha a certeza necessária para despertar um milagre de sustento para si e para sua família. Assim, ele disse que é melhor cair e ser verdadeiro do que viver uma mentira; se a forma como falamos ou agimos é diferente do que realmente somos por dentro, não estamos – ou não podemos estar – conectados à Luz do Criador.
Quando os kabalistas se referem à sabedoria da kabbalah, chamam-na de Sabedoria da Verdade, porque não podemos estar conectados à Luz do Criador e a essa sabedoria se não agirmos externamente onde está nossa consciência internamente. Portanto, para Abraão, foi melhor cair e estar um pouco na escuridão no Egito do que viver e permanecer em Canaã, onde sua consciência, seu nível espiritual, não estava.
Dessa lição, aprendemos algo tremendo. Às vezes, é mais fácil, ou pensamos que é melhor, agir de maneiras que não somos, dizer palavras que não são verdadeiras para nós e comportar-nos de maneiras que não estão de acordo com quem somos. Mas lembre-se do que Rav Ashlag disse: para estar conectado à Luz do Criador, é melhor ser mais humilde, cair e ser verdadeiro do que agir de forma elevada e viver qualquer grau de mentira.
Quantas vezes nos comportamos de maneiras que não são verdadeiras?
Mesmo em coisas espirituais, permitimos a nós mesmos fazê-lo. No entanto, qualquer parte de nós mesmos, nossas palavras ou nossas ações que não são verdadeiras nos desconectam da Luz do Criador, mesmo as positivas. Se fizermos ações espirituais que não são do nosso nível, que não são realmente quem somos por dentro, elas não trarão Luz. Porque nada é mais importante do que ser verdadeiro.
Abraão sabia que era errado voltar ao Egito, mas ele disse: “Aqui é onde estou agora, e é melhor viver na verdade e cair do que viver uma mentira”. É uma compreensão muito importante que nos é dada no Shabbat Lech Lecha.