O Shabat Matot-Masei é um dos três Shabat que caem no período que chamamos de Ben HaMetzarim, “As Três Semanas Negativas”, e a porção Masei fala sobre as 42 viagens, as 42 etapas, pelas quais os israelitas passaram desde o momento em que deixaram o Egito até chegarem à terra de Canaã, a terra de Israel. Os kabalistas explicam que quando lemos sobre esses 42 estágios, não estamos lendo sobre a história, mas sobre a vida de cada pessoa. Cada um de nós, quer tenhamos consciência disso ou não, passa pelos mesmos 42 estágios; desde o início da alma até sua Correção Final existem 42 etapas. Portanto, quando lemos sobre os 42 estágios, não é apenas a história que estamos lendo, mas isso também abrange todos os aspectos de nossa vida, desde as etapas que já passamos até as etapas, ou estágios, que chegaremos através da elevação e correção.
Então, em sua essência, o grande kabalista Rav Chaim Ben Attar diz que toda essa discussão é sobre a elevação das faíscas. Como já falamos antes, o propósito de nossa alma, desde o momento em que foi criada, é capturar as faíscas de Luz que estão na escuridão e elevá-las a uma conexão nova e renovada com a Luz do Criador. Quando uma quantidade suficiente dessas faíscas são elevadas por meio de nosso trabalho, então alcançamos o Gemar HaTikun, o Fim da Correção. É dito que o desejo do indivíduo é o que eleva essas faíscas.
Os israelitas viajavam de um lugar para o outro, e nem sempre estavam cientes da Luz que estava disponível para eles em cada lugar. No entanto, se durante as viagens e os desafios do caminho eles tivessem mantido clareza de consciência e desejo de se conectar com a Luz do Criador, então, independentemente de eles estarem cientes disso ou não, faíscas de Luz teriam surgido da escuridão e se conectariam à sua alma, elevando-se por meio deles. Como tal, o entendimento aqui é que o processo de elevar essas faíscas nem sempre é um processo consciente. A maioria das faíscas que precisamos elevar são faíscas inconscientes.
Rav Chaim Ben Attar usa o exemplo de um ímã; quando uma pessoa tem o desejo de se conectar com a Luz do Criador, ela se torna um ímã para atrair as faíscas. Então, quando estamos andando na rua, há faíscas esperando que nos tornemos um ímã para elas. E qual é o poder que atrai essas faíscas? É a clareza de consciência e o desejo de estar conectado à Luz do Criador.
Uma pessoa poderia estar caminhando pela mesma rua nos últimos cinco anos, mas hoje, se pela primeira vez ela estiver em um estado de clareza e tiver o desejo de uma conexão verdadeira com a Luz do Criador, essas faíscas surgirão e irão se conectar a ela. Infelizmente, no entanto, essa mesma pessoa pode andar por aquela rua onde suas faíscas estão esperando por 50 anos, sem desejo de se conectar com a Luz do Criador, e essas faíscas não vão surgir e se conectar a ela. Aprendemos com isso que uma das lições mais importantes, não apenas dessas três semanas, mas também do Shabat Matot-Masei, é a importância de lutar pelo desejo de conexão. Porque não é simplesmente que o desejo de conexão seja uma ferramenta que nos leva a nos conectarmos, mas também, é na verdade a ferramenta mais poderosa para atrair toda a Luz e faíscas de que precisamos.
Há uma seção no Midrash que nos diz que Jeremias era chamado de Profeta da Destruição, porque foi ele quem tentou despertar os israelitas antes da destruição e ninguém o ouviu. É dito que ao longo desse tempo, ele andava por aí e dizia às pessoas que elas precisavam despertar o desejo de se conectar, porque elas não percebiam que poderiam perder todas as bênçãos que têm se não viverem com o desejo de se conectar constantemente com a Luz do criador. Mas ninguém deu ouvidos a ele, a destruição ocorreu e os israelitas foram levados para o exílio.
Em uma seção famosa dos Salmos, é dito que eles se sentaram à beira do rio da Babilônia e começaram a chorar a Jeremias, porque viram que ele os estava deixando, dizendo “Como você pode nos deixar, agora que temos tanto desejo de nos conectar?”. Aqui, quando estamos falando sobre chorar, estamos falando especificamente sobre a necessidade de nossa alma se conectar com a Luz do Criador. Então, Jeremias responde a eles que, se tivessem chorado pelo menos uma vez quando ainda estavam na terra de Israel, nada disso teria acontecido. Se eles tivessem chorado apenas uma vez, Jeremias lhes disse, quando ele tentou despertar o desejo verdadeiro, nenhuma dor ou destruição teria que ocorrer.
É disso que se trata estas três semanas – sentir a distância que há entre nós e a Luz do Criador e despertar esse desejo. E agora entendemos ainda mais que o desejo é o que atrai a Luz para nós.
Digamos, por exemplo, que hoje estamos andando na rua, e temos clareza da nossa consciência e desejo, e sentimos a distância entre nós mesmos e a Luz do Criador, e queremos criar uma conexão real. Então, aquela faísca de Luz daquela rua pela qual caminhamos por muitos anos vê que há desejo ali. E a faísca de Luz também tem desejo, já que se perdeu por muitos anos e se conectou ao que é chamado de semelhança de forma. Então, a faísca de Luz diz: “Eu me conecto a você, porque você também tem desejo.”
Aprendemos com isso que a importância do desejo tem pelo menos dois lados. Primeiro, as faíscas de Luz que nós, e o mundo, precisamos elevar estão esperando ao nosso redor… mas não simplesmente para que entremos e façamos uma conexão, ou mesmo para fazer uma ação de compartilhar. Porque embora essas ações, sim, revelem uma certa quantidade de Luz, é o desejo que atrai Luz para nós, não apenas conscientemente, mas mais importante, inconscientemente.
À medida em que vivemos mais com o desejo de uma verdadeira conexão com a Luz do Criador, nem mesmo perceberemos de onde toda essa Luz está vindo para nós. Porque não vem necessariamente de nossas conexões; vem de todas aquelas faíscas que estão esperando por nós para despertar o desejo. E foi isso o que aconteceu com os israelitas no deserto. Por que eles ficaram lá por 40 anos? Porque ao longo desses 40 anos, eles esperaram para ver as faíscas de Luz que estavam no deserto, eles esperaram pelo desejo.
Por que os israelitas tiveram que ir e vir no deserto? Porque eles não tinham desejo. E viajar aqui representa as viagens da vida, cada uma das viagens individuais de nossas vidas e reencarnações. Então, como podemos elevar e completar essa jornada? Somente com o desejo. Se fizermos 50 anos de trabalho, compartilharmos e nos conectarmos sem despertar o desejo, então todas aquelas faíscas perdidas que estão esperando para serem elevadas, e se tornarem parte de nós para nos ajudar e nos trazer Luz e bênçãos, não podem se conectar a nós.
É disso que se trata a porção Masei: a clareza de que despertar o desejo de uma conexão com a Luz do Criador é mais importante do que a conexão ou ação em si. E essa é uma das perguntas mais importantes que devemos fazer, não apenas no Shabat Matot-Masei, mas também durante essas três semanas. Quão grande é o nosso desejo? Não dizendo: “Eu faço o trabalho espiritual, então estou bem”, mas perguntando a nós mesmos se o estamos fazendo com desejo. Porque o desejo de conexão é mais importante do que a própria conexão.