No Shabat de Shoftim, na leitura de Shoftim, o Ramban, Nachmanides, revela um segredo muito importante sobre este verso, que diz: “Você tem que perseguir a justiça”. Ele primeiro, como de costume, faz um comentário e dá uma explicação com base no entendimento literal dessas palavras. O Ramban cita um livro de segredos kabalísticos chamado Bahir, que Rav Nehuniah ben HaKana, o autor do Ana BeKo’ach, escreveu. Ele diz que há um segredo que é explicado com base nesse versículo.
No Bahir, da seção 74 a seção 75, ele explica que onde está escrito tzedek, que é traduzido literalmente como “justiça”, na verdade significa “o governo de justiça deste mundo”. Não é justiça no mundo físico: está se referindo ao julgamento, ao din, que um indivíduo traz sobre si mesmo quando faz ações negativas e, ao fazer isso, desperta a negatividade geral pela qual o mundo passa. Portanto, aqui a Torah está se referindo ao julgamento que existe sobre o indivíduo ou sobre o mundo.
Mais adiante, está no final do verso que se você correr atrás desse tzedek, desse julgamento do mundo, então você merecerá a vida. Rav Nehunia ben HaKana diz no Bahir, com relação ao final do verso, que se você deseja merecer a vida, certifique-se de estar correndo atrás do julgamento deste mundo. E temos que entender o que isso significa, porque é um segredo muito importante. A medida que julgamos a nós mesmos é a medida em que estaremos vivos e iremos merecer a vida. Se não nos julgarmos o suficiente, o julgamento virá sobre nós e teremos que purificá-lo à força.
Então, primeiro entendemos este segredo que o Ramban está citando do Bahir, do livro de Rav Nehunia ben HaKana, onde está escrito que se você se esforçar para se julgar – e através disso você de alguma forma diminuirá o julgamento que existe sobre este mundo e sobre você –, então você atrairá vida para si mesmo. Mas se não, ele diz, o julgamento será forçado sobre você, e o julgamento virá e se manifestará.
Esse segredo pode ser entendido por uma seção no Midrash na qual está escrito que se há julgamento neste mundo físico, então não há julgamento que venha do Mundo Superior. Se pudermos nos lembrar disso, espero que não paremos de fazer teshuvá neste mês. A maioria de nós sabe que, quando chegarmos ao mês de Elul, temos que fazer teshuvá. Por quê? Porque queremos nos purificar de nossa negatividade para que nosso recipiente seja aperfeiçoado quando chegarmos a Rosh Hashaná. Mas há uma razão muito mais importante pela qual não apenas temos que estar constantemente fazendo teshuvá, mas também temos que nos impulsionar para níveis mais profundos dela.
Já falamos antes sobre o conceito de que existe uma quantidade limitada de um reservatório de negatividade e escuridão que pode chegar a um indivíduo. O que cria esse reservatório? Nossas ações negativas. Quando fazemos uma ação negativa, criamos aquela fonte de negatividade que deve se manifestar. Mas nós temos uma escolha: ou, como Rav Nehunia ben HaKana diz no Bahir, somos forçados a manifestar esse julgamento, ou escolhemos manifestá-lo nós mesmos e, então, ele não tem mais energia.
Vamos supor que um indivíduo, apenas para usar um número, tenha dez aspectos de julgamento que ele criou. Cada vez que ele olha para si mesmo quando passa pelo processo de teshuvá e se aprofunda e encontra mais, se lembra de mais negatividade e coisas que ele tem que transformar, ele pega daquele reservatório de julgamento e o usa até acabar. Essa é uma das razões pelas quais o processo de teshuvá e o processo de julgar a si mesmo não é apenas um processo importante para se tornar uma pessoa melhor ou para aperfeiçoar nosso recipiente: o que ele realmente faz é usar completamente o reservatório de julgamento que se destina a cair sobre o indivíduo. E esse é o segredo que o Ramban e o Rav Nehunia ben HaKana querem nos ensinar.
Se perseguirmos o julgamento, o que significa que estamos nos forçando de maneiras cada vez mais profundas para trazer julgamento sobre nós mesmos, julgando a nós mesmos e encontrando maiores graus ou níveis de coisas que fizemos de errado, então, se houver julgamento despertado aqui por nós, não há mais energia de julgamento nos Mundos Superiores. No entanto, à medida que não estamos nos forçando para encontrar mais e mais, então, por exemplo, se encontramos apenas um aspecto, um décimo de nossa negatividade, deixamos nove décimos de nossa energia de julgamento nos Mundos Superiores. E, então, como diz no Bahir, isso vai se manifestar em nossa vida.
Portanto, temos a opção de nos julgarmos duramente neste mês, o que, se entendermos, é um presente inacreditável. Por quê? Porque se continuarmos a nos julgar continuamente, e encontrarmos cada vez mais negatividade, estaremos removendo aquela nuvem de julgamento nos Mundos Superiores – e não haverá mais julgamento nos Mundos Superiores que pode se manifestar. E essa é nossa escolha.
Agora entendemos por que está escrito “Você persegue o julgamento em si mesmo…”. Mesmo que pensemos que não podemos encontrar aspectos de negatividade, temos que nos forçar a buscar maneiras de encontrar a negatividade dentro de nós neste mês, porque cada aspecto da negatividade que encontramos diminui o reservatório de julgamento que vai se manifestar em nossa vida. Quanto mais nos julgarmos neste mês – e se encontrarmos um aspecto da negatividade após o outro – mais atrairemos a vida, porque nenhuma força de morte, nenhuma força de julgamento é deixada nos Mundos Superiores. É um segredo tremendo e um dos presentes deste Shabat que, espero, que não apenas entendamos, mas também verdadeiramente venhamos a sentir.