A porção de Ki Tetze fala sobre o que acontece se você encontrar algo que outra pessoa perdeu. Obviamente, a coisa certa a fazer é descobrir quem é o proprietário e devolvê-lo. Mas o que acontece se você não fizer isso? O Ari diz que qualquer pessoa que encontra algo que se perdeu, ou que pertence a outra pessoa, e não o devolver ao seu dono por qualquer motivo (pode ser porque se está muito ocupado, não se tem tempo, ou não se importe o suficiente) está desviando os seus olhos. E a consequência para aquele que desviou os olhos será a mesma: se a alma da pessoa que teve a oportunidade de devolver algo que foi perdido, mas por qualquer motivo não aproveitou, não for corrigida quando sair deste mundo, então essa alma não consegue ir para seu lugar de direito nos Mundos Superiores.
No Shaar HaGilgulim, O Portão das Reencarnações, o Ari explica que existem duas formas de correção para a alma. Uma é quando uma alma justa volta no que é chamado de Ibur para entrar temporariamente no corpo de uma pessoa – mesmo às vezes sem que o indivíduo saiba – e ajudar a correção dessa alma. Agora, essa alma recebeu sua correção e o Ibur pode deixar o corpo. O conceito de Ibur é muito fácil e rápido para a alma; entra e sai, obtém o que precisa e vai embora. A segunda forma de ocorrer a correção para a alma é gilgul, ou reencarnação, o que o Ari explica ser um processo muito mais difícil. A alma tem que passar por uma purificação que é muito desconfortável, assim como todo o processo de viver uma vida inteira para uma correção. Se você comparar os dois processos de correção, o Ibur é, portanto, um processo muito mais rápido, mais ágil, mais puro e preferível para a alma.
Mas o que acontece se uma pessoa – pergunta o Ari – tiver uma oportunidade nesta vida de devolver algo ao seu dono de direito e não o faz? Essa alma não pode merecer a assistência do processo de Ibur, e essa alma será, portanto, perdida; se uma pessoa viu o objeto perdido de outra pessoa e não devolveu ao dono, então, quando sua alma estiver perdida, a Luz do Criador não poderá ajudar. Essa alma não receberá a ajuda da alma da pessoa justa necessária para corrigi-la, o que o Ari diz ser o segredo do Ibur.
Portanto o Ari está nos contando algo realmente incrível, especificamente sobre um objeto perdido, mas também sobre qualquer assistência que escolhemos dar ou não dar a outra pessoa. O Ari diz que se você teve a oportunidade de devolver um objeto para outra pessoa, mas não o fez, então, depois que sua alma deixar este mundo e precisar de uma correção através do Ibur, ela não receberá essa ajuda. Parece muito desproporcional… Não devolvi um suéter e agora minha alma está perdida por algumas centenas de anos!? Não faz sentido. Mas, esperançosamente, isso realmente nos dá uma apreciação por nossas vidas e nossas ações. Nossas vidas neste mundo são muito mais ampliadas do que a forma como as vemos; não há coincidências. Por que essa pessoa se deparou com um suéter ou uma carteira que foi perdida? Porque a alma dessa pessoa precisa de um Ibur, uma ajuda de outra alma para ajudá-la a encontrar seu caminho.
Às vezes, em nossa mente, quando nos deparamos com um objeto perdido, ou mesmo ouvimos sobre esse conceito, pensamos: qual é o problema? Alguém perde um suéter ou não perde um suéter… talvez uma carteira ou um telefone seja um pouco mais importante, mas ainda não achamos que seja grande coisa. No entanto, outra pessoa pode pensar que é uma grande coisa. E lembre-se de que a razão pela qual você encontra aquele suéter, carteira ou telefone, naquele momento, é porque sua alma – agora ou no futuro – precisará da ajuda de outra pessoa quando se perder.
Quando você realmente entende que fazer uma ação física relativamente simples leva a receber ou não essa assistência celestial inacreditável, você percebe a importância de cada ação. Porque não é por acaso que este suéter, telefone, carteira, etc. entrou no seu campo de visão. E se você agarrar essa oportunidade naquele momento, receberá a ajuda necessária no que é claramente uma situação muito mais importante. Mas se você deixar passar essa oportunidade, porque você está muito ocupado ou não tem tempo suficiente então, quando você precisar daquela ajuda celestial, ela não estará lá.
Cada ação potencial que surge em nossas vidas é porque precisamos de seu efeito, seja agora, mais cedo ou mais tarde. Não existem situações coincidentes; cada situação que surge em sua vida é porque o Criador sabe que, por aquela pequena ação, você pode despertar certos níveis de assistência – neste caso, o conceito de Ibur – que você precisará agora ou mais tarde. E se você não agarrar essa oportunidade, o Criador não poderá ajudar.
Portanto, neste mês de Elul, devemos despertar para a maneira casual com que nos permitimos fazer ou não ações. Quando você percebe, por exemplo, que devolver um suéter que encontrou ao seu legítimo dono é uma forma de garantir a assistência para a correção que sua alma precisa, que virá de uma pessoa justa para ajudá-la, é um nível de compreensão completamente diferente.