O mês de Cheshvan, ou Escorpião, é o único mês do ano em que, segundo os cabalistas, não há um único dia de conexão – um contraste marcante em relação ao mês passado, Tishrei, ou Libra. Mas isso não significa que Escorpião seja um mês sem muita Luz disponível. Pelo contrário, é um mês em que cada um de nós, individualmente, pode fazer mais e revelar mais Luz do que em qualquer outro mês do ano. Como não há Luz preparada nem dias de conexão, e, portanto, uma aparente falta de oportunidade, isso se torna a maior oportunidade. Refletindo sobre esse conceito, lembrei-me de uma história interessante.

A maior parte do que estudamos e o sistema sobre o qual nossa compreensão da Cabala se baseia vêm dos ensinamentos revelados pelo grande cabalista Rav Isaac Luria, e então transmitidos por seu aluno, Rav Chaim Vital. O relacionamento entre eles era muito interessante, e quero focar em uma interação específica entre professor e aluno. Eles estudaram juntos por menos de dois anos e, durante esse tempo, o Ari dizia constantemente a seu aluno: “Você não tem ideia do quanto pode fazer por este mundo. Você não faz ideia de quão grandiosas são suas ações. Você não faz ideia do impacto que terá neste mundo.”

No começo, Rav Chaim Vital provavelmente ficou um pouco lisonjeado com isso. Mas, com o tempo, ele começou a questionar a constante lembrança de seu professor sobre a grandeza de sua alma e de suas ações. Ele foi até seu mestre e disse: “Tenho estudado há alguns meses e você continua me lembrando de quão elevada é minha alma e de quanto posso e farei pelo mundo. Tenho pensado muito sobre isso, e, para ser sincero, não estou totalmente convencido; na verdade, acho que você pode não estar sendo completamente honesto comigo. Sei de grandes almas que viveram antes de mim, e até mesmo nesta geração devem haver almas maiores. Mas, mesmo sem pensar sobre esta geração ou sobre gerações anteriores, houve muitos cabalistas e almas espiritualmente elevadas – como pode dizer que minha tarefa é única e que o que posso fazer é maior do que tantas dessas grandes almas? Não acredito nisso, não faz sentido para mim. Você repete isso, mas não aceito.”

Após muita conversa, o Ari, seu professor, respondeu: “O erro que você comete está em tentar avaliar e comparar seu estado espiritual e de conexão com as gerações anteriores. Em gerações passadas, houve pessoas cuja sabedoria e ações ultrapassaram as suas. Mas a quantidade de Luz e, portanto, de bênçãos que se pode receber e a influência que se pode ter sobre o mundo não estão relacionadas ou comparadas com outras almas que viveram anteriormente. Quanto mais escuro o tempo e menos Luz parece estar disponível, maior é o impacto de uma ação realizada por uma alma aparentemente menor.”

Quando a Luz não está tão revelada, mesmo uma pequena ação sua revelará grande Luz para o mundo. E o Ari explica ao seu aluno que é por isso que ele continua a lembrá-lo do quanto ele pode influenciar o mundo e do quanto ele pode fazer. É como neste mês de Escorpião, um mês em que a Luz não está disponível para nós em dias de conexão; precisamos despertar a Luz, o que significa que até uma pequena ação ou pequena Luz que despertamos brilhará ainda mais intensamente. Uma ação pequena de conexão, de compartilhamento ou de elevação neste mês pode realizar muito mais do que uma grande ação no mês anterior, quando havia dias em que a Luz já estava preparada para nós.

Neste mês de Cheshvan, começamos a entender que a oportunidade para cada um de nós despertar e atrair grande Luz e bênçãos para nós mesmos e para o mundo se torna ainda mais poderosa. Esse é o presente deste mês. Porque a Luz do Criador não está simplesmente jorrando em nossas vidas e almas, até mesmo uma pequena ação de compartilhamento ou uma pequena ação de conexão que realizamos neste mês revelará grande Luz e grandes lições.

Quando entendemos dessa maneira, percebemos que talvez não haja outro mês do ano em que possamos ser tão poderosos e realizar tantas mudanças, revelando tanta Luz e bênçãos, quanto neste mês de Escorpião.