Uma das lições na porção de Ekev é para enxergarmos que a coisa a que menos damos importância é, geralmente, o nosso próprio trabalho espiritual.
Como já disse antes, a única coisa que o Lado Negativo não quer que saibamos é o quão poderosos podemos ser através do nosso trabalho espiritual, quão poderosos podemos ser através de nossas orações, quão poderosos podemos ser através da leitura do Zohar.
E a maioria de nós não aprecia o poder que o nosso trabalho espiritual tem; como tal, temos que despertar uma apreciação por este poder. Temos que identificar as maneiras pelas quais estamos nos rebaixando, nos puxando para baixo ou deixando de apreciar o trabalho espiritual que estamos fazendo.
Eu quero compartilhar um ensinamento do Ari e do Rav Chaim Vital, que era seu aluno, para realmente despertar esse entendimento. Rav Chaim Vital cita uma história do Talmud para o Ari. No Shabat, sabemos que devemos nos abster do trabalho.
Mas, talvez, a maioria das pessoas não saiba que, se você possui animais, nem mesmo eles deveriam trabalhar. Há uma discussão completa no Talmud sobre as coisas que seus animais não podem fazer no Shabat.
Sem entrar na parte técnica, a história do Talmud diz que a vaca de Rav Elazar ben Azariah estava usando algum tipo de cinto ou correia, e os sábios não estavam felizes, porque no Shabat, ainda que os animais possam usar coisas de natureza ornamentais, eles não têm permissão para usar coisas que os fazem trabalhar.
Então, basicamente, o ponto de partida da história é que a vaca do Rav Elazar Ben Azariah saiu usando uma espécie de cinto ou alça, e os rabinos e sábios ficaram chateados com ele.
Quando Rav Elazar ben Azariah viu que tinha deixado sua vaca sair assim, ficou tão chateado que jejuou de tal forma que seus dentes ficaram pretos, o que significa que ele estava em um nível tão alto que podia corrigir, com muito rigor, uma coisa tão pequena.
No entanto, está escrito no Talmud no final da história, que, na verdade, a vaca não era do Rav Eleazar ben Azariah: a vaca era do seu vizinho. Mas, no entanto, ele estava tão chateado consigo mesmo por não ter dito ao seu vizinho que não permitisse que sua vaca saísse assim no Shabat que ele jejuou e seus dentes ficaram pretos.
O Ari diz a Rav Chaim Vital que ele é uma alma incrível, que pode trazer muita Luz para este mundo.
E, em resposta, Rav Chaim Vital cita esta história do Talmud para o Ari, dizendo, essencialmente: “Não acredito nisso, não pode ser; eu leio essa história no Talmud, que diz que, simplesmente por uma pequena coisa que a vaca de seu vizinho fez, o Rav Eleazar Ben Azaria fez um jejum tão rigoroso; não há como o meu trabalho ser importante, e nem que eu possa revelar grande Luz neste mundo.
Como podemos pensar que temos uma natureza espiritual tão elevada como a de Rav Elazar ben Azariah, que nosso trabalho espiritual possa fazer alguma coisa?”.
Então, o Ari diz a Rav Chaim Vital que, se uma pessoa tem um verdadeiro suspiro do fundo do coração, se ele vê alguém com dor e sente essa dor e dá um suspiro, esse suspiro é mais poderoso e mais amado para o Criador do que todo o trabalho de jejum e todas as coisas que as pessoas de gerações anteriores fariam para se elevar espiritualmente.
Com um suspiro, sentindo a dor de outra pessoa, você pode se elevar mais do que com mil horas de jejum e todos os outros trabalhos espirituais que as pessoas fizeram nas gerações anteriores.
Por quê? Porque a Luz do Criador está tão oculta na nossa geração – e ficará cada vez mais, progressivamente – que é muito mais difícil nos conectarmos, é muito mais difícil fazermos o trabalho espiritual, que até mesmo um pequeno suspiro nos conecta.
Eu penso que todos nós podemos ouvir sobre isso, mas não sei quantos de nós realmente acredita que um suspiro que damos ao sentir a dor de outra pessoa seja tão poderoso quanto anos e anos de trabalho espiritual feito, digamos, mesmo por Rav Shimon bar Yochai.
Porque nossa geração está tão distante, está tão separada, a Luz do Criador está tão escondida, que não imaginamos quanta Luz revelamos ou o quanto nos elevamos. No entanto, não há nada que você faça de natureza espiritual, oração, estudo ou ação que não revele grande Luz.
Não pense para si mesmo: “por que eu deveria me esforçar?
Sempre que o Rav Shimon Bar Yochai, ou Ari, ou Rav Ashlag oravam, eles podiam mudar as coisas… mas minha oração pode surtir algum efeito quando alguém sofre, quando alguém precisa de cura, quando alguém precisa de assistência?
De jeito nenhum”. Porque isso não é verdade, temos que saber que tudo o que fazemos cria frutos, cria Luz. Sua oração, nossa oração, a oração de cada um de nós – e em nossa conexão com a Luz do Criador, queremos despertar a cura, a ajuda, as bênçãos – é tão poderosa quanto as de Rav Shimon Bar Yochai, mesmo depois de ter levado anos e anos de elevação.
Sua oração hoje pode despertar a mesma, ou até, maior Luz do que essa, assim como o Ari disse a Rav Chaim Vital.
A melhor coisa que temos, e que não damos importância, é o nosso próprio trabalho. Portanto, se você quer trazer alegria e o fim da dor, do sofrimento e da morte para este mundo, desperte uma apreciação pelo seu trabalho espiritual, por suas orações, seu estudo e suas ações.
Como o Ari disse a Rav Chaim Vital: um “suspiro” nesta geração desperta tanta Luz quanto anos e anos de jejum e trabalho espiritual das gerações anteriores. É um grande ensinamento e uma tremenda Luz que nos é revelada neste Shabat.