A porção de Mishpatim começa com um assunto que repele a maioria das pessoas – a questão da escravidão – discutindo quantos anos um escravo Israelita deveria trabalhar.
Também nos fala que esse escravo finalmente deve receber sua liberdade. Significa que leremos de Mishpatim para aprender a respeito de escravos?
Quando nós lemos a Bíblia de forma literal, esses versos não fazem sentido. Na verdade eles parecem totalmente irrelevantes, e mais ainda, há uma questão de como saber se há ou não um motivo para estudá-los ou considerá-los de grande importância.
Mas, como nós sabemos, o Zohar é o instrumento que usamos para nos ajudar a decodificar a Bíblia, que nunca deveria ter sido tomada literalmente.
O Zohar explica que podemos aprender muito sobre as causas do nosso próprio caos. Por caos, eu não estou discutindo sobre as grandes catástrofes que ocorrem de tempos em tempos, mas ao invés disso, as experiências diárias, mensais e anuais que criam dúvidas quanto à existência de um Criador.
O Zohar diz que o primeiro verso de Mishpatim: “Estas são as leis que você deve colocar diante deles”, refere-se à lei da reencarnação, indicando que a viagem da alma de uma vida a outra existe de fato. É disso que os versos de Mishpatim tratam: não da escravidão, mas da reencarnação. Muitos de nós, em um momento ou outro, levantam a questão: “O que eu fiz para justificar esse tipo de caos na minha vida?”
O que ensinamos na Kabbalah é que o caos não vem de fora e sim de dentro. Ninguém lá fora pode nos tocar ou nos prejudicar a menos que tenhamos causado caos em uma vida ou vidas anteriores, o que é a causa para experimentarmos o caos hoje. Isso não é aleatório.
Não conseguimos conectar o caos que experimentamos no presente com o que podemos ter feito para merecer isso no passado a menos que tenhamos conhecimento do conceito de reencarnação.
O Zohar está nos ensinando que podemos acessar a energia de outras vidas. Embora não possamos entender o que estamos passando, nós podemos, pelo menos, relacioná-lo com a ideia de que somos responsáveis por tudo o que nos acontece.
O Zohar explica que existem duas maneiras de atravessar uma dificuldade — ou podemos dizer a nós mesmos: “eu suponho que isso seja retribuição por algo que eu fiz em uma vida anterior”, ou podemos chorar para Deus dizendo: “Por que Você trouxe isso para mim?”
No entanto, com a segunda pergunta, nós teremos desperdiçado a experiência que nos foi apresentada pelo universo, e teremos de voltar novamente. Isso tem acontecido com todos nós; nós, cada um de nós, voltamos porque não reconhecemos o que foi requerido de nós em uma vida passada. Nós não passamos pela correção do tikkunim.
O objetivo desta seção do Zohar é entender que quando aceitamos a responsabilidade pelo caos que vivenciamos, isso facilita sua remoção. É simples assim. Este é o propósito de ter a consciência do princípio da reencarnação, que nos ajuda a reconhecer que nada neste mundo é aleatório.
Muitas pessoas acreditam que os eventos são aleatórios e que não há uma conexão clara do que afeta o quê. No entanto, a causa da nossa experiência atual, boa ou ruim, provavelmente não está relacionada a nada do que fizemos hoje; mas pode estar relacionado a algo que fizemos há 40 vidas.
Isso é incompreensível para aqueles de nós que estão buscando entender a causa e o efeito no nível físico.
Em Gênesis, aprendemos que existem universos paralelos neste mundo que vivemos; existem dois níveis: um nível físico e um nível espiritual.
Quando não sabemos que existe um nível espiritual, o que emerge é a confusão, o que é uma perda nossa. Tudo parece aleatório porque vem de algum lugar que ninguém conhece. O Zohar explica que não existe essa tal aleatoriedade.
Estudamos a Kabbalah para aprender o que nos mantém conscientes do fato de que quando o caos se apresenta é uma oportunidade para transformar o que precisamos corrigir de uma vida passada e, em última análise, removê-lo permanentemente para que nunca mais precisemos passar por essa experiência novamente.
O conhecimento do Zohar, e especificamente de Mishpatim, nos ajuda a evitar as armadilhas, porque descobrimos que nossas vidas anteriores não cessaram com o fim do corpo físico.