Há uma coletânea de alguns ensinamentos de uma grande alma que viveu e foi morta durante o Holocausto.
Esta coletânea não traz ensinamentos sobre todas as porções semanais e, por isso, muitas vezes não tenho a chance de estudar por ela. Mas Vayishlach é uma das porções nessa coletânea, e estou animado para compartilhar o ensinamento com você.
A maioria de nós conhece a história: Jacó, tendo vivido muitos anos com seu sogro, Labão, recebe uma mensagem do Criador de que é hora de voltar para a casa de seus pais. No caminho, ele descobre que seu irmão, Esaú, está vindo para lhe fazer mal e provavelmente matar a ele e a sua família. Então, Vayishlach começa com o trecho que afirma que Jacó “enviou anjos”. Não é sempre que encontramos essa terminologia – literalmente, a palavra “anjo” – na Torah. Os comentaristas debatem se ele enviou anjos literais ou se “anjos” aqui simplesmente significa “mensageiros” ou “pessoas que Jacó enviou”. Rashi, o grande kabalista e comentarista, diz que Jacó realmente chamou anjos dos Céus para que eles procurassem e falassem com os soldados de Esaú que estavam vindo para matá-lo.
Sabemos que todas essas histórias não são históricas, mas sim segredos e entendimentos de que precisamos hoje. Então, qual é o segredo aqui? Este ensinamento diz que podemos entender este verso e o segredo do conceito de Jacó enviar anjos reais no que diz respeito ao nosso próprio trabalho espiritual. Qual é o desejo maior e final do Criador para nós? O que é que a Luz do Criador realmente deseja para nós e de nós? Alguns podem pensar que são: o trabalho espiritual, as orações, as conexões… Mas este ensinamento diz que não; a coisa mais importante que o Criador deseja para nós não é o trabalho espiritual que vemos como ações espirituais, o estudo ou as conexões. Em vez disso, é ter a capacidade de elevar a fisicalidade.
Os Kabalístas frequentemente falam sobre isso.
A alma não tem que descer ao mundo físico para fazer o trabalho espiritual e as ações de conexão espiritual que podem ocorrer nos Mundos Superiores, seja para orar, estudar, seja mesmo para compartilhar. O foco principal do nosso trabalho também não deve ser as ações espirituais que podem ser feitas nos Mundos Superiores, mas sim elevar o físico; esse é o benefício de enviar a alma para o corpo físico, para o mundo físico.
Então, primeiro, ele faz uma declaração muito importante para todos nós entendermos: é preciso que o cerne do nosso trabalho não seja apenas o trabalho espiritual em si (conexões, estudos, orações ou mesmo em ações de compartilhamento), mas sim, focar em elevar o físico. Como fazemos isso? Injetando a Luz do Criador em toda a fisicalidade deste mundo.
Para dar um exemplo, quando uma pessoa está comendo, a pergunta é: por que ela está comendo? Se ela come porque simplesmente deseja desfrutar da fisicalidade de comer, esse é um tipo de consciência. O outro tipo de consciência é: “estou comendo, bebendo ou desfrutando disso, do mundo físico, para que eu possa ter uma maior capacidade e habilidade de me conectar com a Luz do Criador”. Quando uma pessoa vive sua vida dessa forma, significa que, em tudo o que é físico, ela entende e injeta a consciência de que está desfrutando dessa comida, bebida ou desse espaço físico em que se encontra porque pediu que tudo aquilo lhe desse uma maior capacidade de força e felicidade para ser capaz de se conectar com a Luz do Criador. Então, esse é o propósito final de seu trabalho espiritual.
Essa compreensão de que o propósito do trabalho espiritual não é realmente a espiritualidade, mas sim a capacidade de injetar a Luz do Criador em toda a fisicalidade, pode ser uma mudança de consciência para alguns de nós. É por isso que estamos neste mundo, caso contrário – e é importante entender isto – não haveria propósito de estar aqui porque o trabalho espiritual pode ser feito no mundo espiritual. O propósito de sermos enviados a este mundo é para que possamos injetar a Luz do Criador no físico. Fazemos isso por meio da consciência. Fazemos isso usando e recebendo conscientemente o físico.
E ele traz um ensinamento do aluno do Ba’al Shem Tov, o Maggid de Mezeritch.
De vez em quando no Zohar, há uma seção que é poética, mas muito difícil de entender. Uma dessas seções está no início do Zohar, em Mishpatim, na seção 15. Há uma passagem chamada de Saba de Mishpatim, na qual um velho sábio revela os segredos da reencarnação. Ele fala sobre o trabalho deste mundo e termina com o trecho que diz que nosso trabalho é vestir a Shechinah, ou o que chamamos de nossa mãe, de nossa protetora, com coisas belas que “não existem” ou “não têm existência”. Esse é o propósito do nosso trabalho, em Saba de Mishpatim, revela o velho sábio: vestir, despertar e preparar as coisas belas que não têm existência.
Então, o Maggid de Mezeritch explica o segredo dessa seção no Zohar nos dizendo que o trabalho espiritual tem uma existência, uma Luz e uma essência; o Zohar tem uma essência, quer o toquemos ou não. As orações têm existência e Luz, quer as façamos ou não. Mesmo as ações de compartilhar, por estarem conectadas à Luz do Criador, têm uma existência independentemente do que fazemos com elas.
Mas o que não tem Luz ou existência espiritual sem a nossa ação é tudo o que é do mundo físico. Portanto, o propósito do nosso trabalho espiritual neste mundo não são as ações espirituais, mas é, por meio dessa consciência, injetar a Luz do Criador no físico deste mundo. Então, quando entendemos isso, compreendemos novamente uma mudança na maneira com que focamos nosso dia. Não podemos pensar que é suficiente estudarmos, nos conectarmos, orarmos, meditarmos ou mesmo fazermos ações de compartilhar; a pergunta que devemos nos fazer é:
“Quanta fisicalidade eu elevei hoje? Quanta Luz do Criador eu investi e injetei na fisicalidade?”.
Como diz o Saba de Mishpatim, o velho sábio, quantas coisas físicas estamos pegando que não tiveram um grande investimento da Luz do Criador e que, por meio de nossa consciência, estamos investindo uma grande Luz do Criador, elevando-as? Esse deve ser o verdadeiro foco de nosso trabalho espiritual.
Quando fazemos isso, uma coisa linda acontece. Uma pessoa que está focada nesse trabalho e que, na maioria das vezes, quando está comendo, bebendo ou participando deste mundo físico, está elevando o físico por meio de sua consciência para uma conexão com a Luz do Criador, eleva-se ao nível de uma pessoa justa.
As pessoas muitas vezes cometem o erro de pensar que ser uma pessoa espiritual e estar conectada ao Criador vem por meio do trabalho espiritual, mas como acabamos de aprender, não é esse o objetivo porque, para fazer o trabalho espiritual, não temos que estar neste mundo físico. Podemos fazer todo o trabalho espiritual nos Mundos Superiores. Há apenas uma razão para estarmos neste mundo físico, e o propósito final do nosso trabalho é elevar tudo o que é deste mundo físico – a comida, a bebida, a satisfação e assim por diante. Se fizermos isso de forma consistente e constante, no final seremos elevados ao estado de pessoas justas.
E este é o segredo do trecho que inicia a porção Vayishlach – “Jacó enviou anjos”.
Jacó viveu sua vida com essa compreensão, consciência e foco; toda vez que comia, bebia, desfrutava do físico, ele tinha a seguinte consciência: “Estou investindo a Luz do Criador nisso, e quero esse prazer, essa comida, essa fisicalidade para me dar a capacidade de me conectar ainda mais fortemente com a Luz do Criador”. Portanto, ele elevou essas coisas físicas ao nível do que chamamos de “anjos” ou entidades espirituais, seres espirituais. Por meio desse trabalho, anjos de verdades, com verdadeira energia espiritual, foram investidos e criados em toda a sua fisicalidade.
Jacó viveu sua vida sempre investindo no físico. Não temos que investir Luz na espiritualidade, porque a espiritualidade tem Luz, o Zohar tem Luz, as orações têm Luz, até mesmo ações de compartilhar têm sua essência e sua Luz. O que não tem Luz e precisa de uma injeção da Luz do Criador para ter existência e ser elevado é o físico. Precisamos pegar o físico e elevá-lo a uma conexão com a Luz do Criador, com a consciência da qual falamos aqui. Mashiach, o fim da dor, do sofrimento e da morte, não virá quando mais pessoas estiverem orando, estudando ou mesmo fazendo ações de compartilhar. Isso acontecerá quando cada vez mais pessoas viverem com essa consciência e elevarem o físico.