Na porção de Shemini, no oitavo dia, Moisés pensa que pode ser o Sumo Sacerdote, mas, como é dito no Midrash, o Criador, em vez disso, diz a ele que Aarão e os filhos de Aarão serão os Sumos Sacerdotes e os responsáveis pelo importante trabalho espiritual no Tabernáculo. E quando você lê a história, parece que não apenas Moisés estava confuso ao pensar que seria o Sumo Sacerdote, mas também quase como se o Criador quisesse que ele ficasse confuso.
O Midrash relata que, ao ser escolhido por Deus para liderar a libertação dos israelitas do Egito, Moisés debateu intensamente com o Criador. O Criador disse a Moisés que Ele queria que ele fosse a pessoa, o canal, para trazer a Luz e liderança para os israelitas e tirá-los do Egito, mas Moisés diz: “Não, eu não sou a pessoa certa”, e isso continua por sete dias, num vai e vem.
Então, o Criador diz a Moisés:
“Eu venho lhe dizendo por sete dias que você deveria ser o único a tirar os israelitas do Egito, e você continua Me dizendo que eu deveria mandar outra pessoa. portanto, Eu prometo que virá um momento em que os papéis serão invertidos; onde você ficará pensando por sete dias que foi escolhido para algo, e no final Eu vou te dizer, ‘Não’.”
E isso se refere ao que estamos falando agora; Moisés faz o trabalho espiritual no Tabernáculo pelos primeiros sete dias, mas no oitavo dia, o Criador diz:
“Oh, desculpe, não é para você. Chame Aarão e seus filhos, eles serão aqueles que serão os kohenim e farão o trabalho.”
Moisés, durante os sete dias de discussão com o Criador, pensou que seu irmão Aarão, e não ele mesmo, era a pessoa certa para tirar os israelitas do Egito.
Então, seja qual for o pensamento sobre seu irmão, claramente, não era egoísta; por que, então, parece que o Criador está punindo ele por isso? Por que parece que era importante para o Criador fazer com que Moisés pensasse erroneamente nos primeiros sete dias que era seu trabalho fazer, e então finalmente dizer a ele para chamar Aarão e seus filhos porque eles seriam aqueles que teriam o trabalho de Sumo Sacerdotes? Qual é o segredo?
A resposta é um ensinamento interessante do Midrash trazido por um kabalista franco-espanhol que fala sobre porque o local específico onde o Templo foi construído, no topo da montanha em Jerusalém, foi escolhido.
Sabemos, como os kabalistas ensinam, que é o lugar físico onde Adão foi criado, é onde Isaque foi levado para o Sacrifício de Isaque, é um lugar onde dizem que Noé trouxe o sacrifício quando saiu do Dilúvio; no entanto, havia uma razão singular para ser escolhido como o local onde o Templo foi construído.
Qual era essa razão? Ele traz o Midrash para responder isso, que dizia que havia dois irmãos que possuíam campos que faziam fronteira com aquele local. Um dia, eles encontraram um tesouro enorme na fronteira, exatamente entre os dois campos, e começaram a discutir sobre quem era o dono do tesouro, cada um dizendo ao outro: “Não é meu; posso dizer pelo lugar onde foi encontrado, é seu tesouro.”
Cada um queria que o tesouro fosse para o outro e não acreditava honestamente que era seu.
O Criador viu que cada irmão queria dar ao outro, e então Ele decidiu que ali seria onde o Altar estaria, e onde o Templo deveria ser construído.
Portanto, o Midrash nos diz que o Templo foi construído ali porque nenhum dos irmãos disse que o queria para si mesmo nem queria dividi-lo; o amor deles era tão forte um pelo outro que a primeira inclinação de cada irmão era dar ao outro antes de tomar para si mesmo.
Então, o Midrash diz que esta é a razão pela qual o Templo foi construído lá, e não por causa de todas as outras coisas. Sempre falamos sobre o conceito de “ame o seu próximo como a si mesmo”, mas no cerne, quando pensamos sobre isso, o amor mais poderoso não é compartilhar.
Compartilhar é quando você tem algo que sabe que é seu, mas vai compartilhá-lo ou dá-lo a alguém, ou compartilhar é dar o que é nosso simplesmente por causa do amor que sentimos pela outra pessoa. E é importante entender que o que aconteceu entre esses dois irmãos não é que um estava compartilhando com o outro.
É que o amor que cada um tinha pelo outro era tão avassalador que a primeira inclinação deles não era dar ao outro, mas dizer: “Não é nem meu”, o que é um nível muito diferente de dizer: “Eu tenho isso e vou compartilhar com você;” em vez disso, é: “Eu te amo tanto que nem vejo isso como meu. É absolutamente seu.”
Isso é o que aconteceu entre esses dois irmãos, e o segredo desse tipo de amor é o que permitiu a construção do Beit HaMikdash, o Templo, naquele local.
Precisamos entender que maior do que compartilhar e até mesmo maior do que “ame o seu próximo como a si mesmo”, que se manifesta na ação de compartilhar, é um amor tão grande que você não vê mais nada como seu próprio, e imediatamente o vê primeiro como de outra pessoa, portanto, sendo mais rápido para dar a ela do que tomar para si mesmo. Este é um segredo muito importante, e aquele que encontramos com Moisés e Aarão.
Quando o Criador veio a Moisés e lhe disse: “Você é o indicado para tirar os israelitas do Egito”, não é que Moisés estava sendo humilde ao dizer que seu irmão deveria fazê-lo. Pelo contrário, foi por causa de seu amor e apreço por Aarão que sua primeira inclinação foi que fosse para Aarão.
Portanto, quando Moisés diz: “Mande outra pessoa”, ele quer dizer: “Mande Aarão porque ele é maior do que eu, ele é mais espiritual do que eu, ele é mais elevado do que eu, ele é a pessoa certa para o trabalho.”
Então, quando entendemos isso, significa que na Sarça Ardente, quando o Criador veio a Moisés, não foi que Moisés estava sendo espiritual. Foi que ele estava tão inundado com seu apreço por Aarão que não conseguia ver nada além do fato de que Aarão era a pessoa certa para aquele trabalho.
E essa foi a razão – e é uma compreensão importante – pela qual Moisés mereceu tirar os israelitas do Egito; porque durante aqueles sete dias ele estava inundado de amor e apreço por Aarão e o desejo de dar-lhe tudo. É por isso que Moisés foi capaz de ser o conduto para a Redenção. Portanto, não foi simplesmente uma discussão entre Moisés e o Criador. Foi um passo que permitiu a Moisés revelar a Luz da Redenção Final.
O Criador diz a Moisés, após sete dias de discussão intensa: “Vá, torne-se o líder, e quando Aarão te ver, ele terá alegria em seu coração. Porque assim como seu amor e apreço por ele são avassaladores e você acredita que ele deve ser o canal para a Redenção, ele sente o mesmo por você.”
E foi a união do amor e apreço entre Moisés e Aarão que permitiu que a Redenção ocorresse.
Porque qualquer grande Luz, como dissemos, precisa ser revelada por meio de uma culminação de grande amor e apreço, e onde, aqui, Moisés desejava dar a Aarão primeiro, e Aarão desejava dar a Moisés primeiro.
Então, perguntamos: por que o Criador permite que Moisés fique confuso por sete dias, pensando talvez que ele seria o Sumo Sacerdote? Porque para a grande Luz do Tabernáculo ser acesa, tinha que haver, assim como no momento da Redenção, o avassalador apreço e amor de Moisés para dar a Aarão, e Aarão para dar a Moisés. Portanto, o Midrash diz muito belamente que, além desses dois irmãos que tinham os dois campos onde o Templo foi construído, não encontramos na história duas pessoas que tivessem um amor e apreço tão avassaladores um pelo outro que seu primeiro desejo fosse que o outro recebesse antes deles, como Moisés e Aarão.
Como sabemos que Aarão realmente sentia grande amor e apreço por Moisés? Porque, como dissemos, o Criador diz a Moisés: “Aarão se aproximará de você e terá verdadeira alegria em seu coração.” E Rav Shimon Bar Yochai diz que foi no momento em que o Criador viu o amor avassalador de Aarão por Moisés que Ele disse: “Esta é a pessoa que precisa ser o Sumo Sacerdote. Esta é a pessoa que pode revelar a Luz do Tabernáculo.”
E isso é verdade em nossas vidas também.
Seja entre cônjuges, amigos e assim por diante, se você quiser acender uma verdadeira grande Luz, o estado de amor e apreço que leva uma pessoa a dizer: “Esta pessoa merece antes de mim”, é o que acende uma grande Luz. Como dissemos, foi isso que acendeu a Luz da Redenção do Egito, foi isso que acendeu a Luz do Tabernáculo, e foi isso que acendeu a Luz do Beit HaMikdash, o Templo.
Se Aarão não compartilhasse da mesma alegria de Moisés por ter sido escolhido para liderar a libertação do Egito, como se fosse a sua própria alegria, a Redenção do Egito não teria sido possível. Se não fosse pelo amor dos dois irmãos, onde cada um desejava que o outro tivesse o tesouro, a Luz do Beit HaMikdash não poderia ter sido acesa.
Este é o estado em que precisamos estar em nossas interações diárias, com pessoas próximas a nós, e eventualmente, com cada vez mais pessoas. A Luz da Redenção Final só pode ser acesa por uma pessoa que chega a um estado de amor avassalador e desejo de compartilhar de tal forma que sua primeira inclinação seja: “Esta pessoa merece isso.” É uma compreensão muito importante.