Os Kabalistas explicam que na porção de Beresheet, o primeiro Shabat e a primeira leitura do ano, começamos a renovar nosso trabalho e processo espiritual para o próximo ano. Portanto, gostaria de me concentrar em um ensinamento que pode nos dar uma visão e direção ao iniciarmos este novo ano.
No sétimo dia de Sukot, um dia chamado de Hoshaná Rabá, pegamos cinco galhos de salgueiro e os batemos no chão cinco vezes. É uma ação muito confusa. Por que fazemos isso e qual é a fonte de Luz do dia que se chama Hoshaná Rabá? A Torah fala sobre Sukot, dizendo que o primeiro dia é um dia de conexão, que é chamado de Yom Tov e o oitavo dia, que é chamado de Shemini Atzeret, também é um dia Yom Tov. O sétimo dia de Sukot na Torah, no entanto, não tem nenhum significado especial… E de onde veio isso?
Ao discutir as origens dessa ação, que o Ari explica ser uma ação tremenda que revela grande Luz, o Talmud diz que ela vem dos Profetas – não é dito qual profeta especificamente – mesmo que nenhum indício disso seja mencionado na Torah. E eu li o que considero uma bela explicação desta ação, que também contém um ensinamento muito importante.
Como sabemos, existiam dois templos.
O primeiro, construído pelo rei Salomão, era tanto uma bela estrutura física quanto uma poderosa estrutura espiritual. Quando o Rei Salomão o dedicou pela primeira vez, todos os que estavam lá viram não apenas a tremenda beleza desta estrutura física, mas também sentiram a presença da Luz do Criador. Em seguida, o Primeiro Templo foi destruído e os israelitas foram para o exílio. Quando alguns deles começaram a voltar para a terra de Israel, para Jerusalém, não foi um período muito feliz e eles não tinham certeza se deviam construir o Segundo Templo.
Naquela época, havia dois profetas sobre os quais eu gostaria de falar; um deles era Ageu e o outro Zacarias. No livro de Ageu, está escrito que o Criador vai até ele e lhe diz para falar aos líderes e ao sumo sacerdote que, embora todos pensem que agora não seja o momento de construir o Segundo Templo, eles devem começar. E assim Ageu, com base na profecia do Criador, desperta os líderes e o povo a se tornarem um pouco mais entusiasmados com a construção do Segundo Templo.
Quando olhamos para a história, podemos pensar que todos estavam felizes naquela época; o Segundo Templo foi construído e era muito bonito.
Mas não era isso que estava acontecendo. As pessoas tinham grandes dúvidas sobre a necessidade ou o direito de construir o Segundo Templo. No entanto, o Criador vai até Ageu e por meio dele diz aos israelitas: “Vocês devem saber que, embora possa não parecer, eu, o Criador, faço parte desta construção.” Então, eles construíram a maior parte do Segundo Templo. Fisicamente, ele não era tão bonito quanto o Primeiro Templo e não parecia, para as pessoas que haviam experimentado o Primeiro Templo, ter nem um pouco da quantidade de Luz que foi revelada no Primeiro Templo.
Assim, Ageu entusiasmou a todos, dizendo: “O Segundo Templo que vamos construir será ainda melhor do que o Primeiro Templo. Vocês vão sentir a Luz do Criador ainda mais. E aqueles que se lembram do Primeiro Templo, irão experimentá-lo de uma maneira ainda mais intensa.” Mas não foi isso o que aconteceu. As pessoas ouviram a profecia de Ageu e ficaram entusiasmadas, investiram tempo, esforço e dinheiro, e construíram o Segundo Templo.
E ele não era tão bonito fisicamente nem tão inspirador espiritualmente. A sensação era que a Luz do Criador no Segundo Templo não existia como existia no Primeiro Templo. Pode-se imaginar o estado de confusão, tristeza e decepção que as pessoas estavam sentindo ao chegarem à conclusão do Segundo Templo.
E então, uma profecia muito importante é enviada à Ageu no dia da conexão chamada Hoshaná Rabá.
É a única vez em toda a Torah e no livro dos Profetas onde encontramos uma ação significativa ocorrendo neste dia. O Criador diz, por meio de Ageu, que várias pessoas experimentaram o Primeiro Templo e sua grandeza física e elevação espiritual, mas quando olham e experimentam este Segundo Templo, parece um nada, porque essas pessoas se lembram de como era o Primeiro Templo. Mas o Criador está dizendo a todos os israelitas, por meio de Ageu, que eles não estão enxergando o ponto principal.
O Criador diz aos israelitas, por meio de Ageu: “Vocês não estão cientes do que realmente aconteceu. A experiência pode não ser a mesma para vocês, a estrutura física pode não ser a mesma para vocês, mas eu prometo que, o que vocês podem fazer e a Luz que vocês podem revelar através do Segundo Templo, é maior do que a Luz revelada no Primeiro Templo. O trabalho que vocês farão no Segundo Templo despertará o mundo inteiro; despertará os céus, a terra e toda a existência deste mundo. Pode não parecer assim para vocês, mas eu prometo que a Luz revelada neste Segundo Templo será maior do que a Luz revelada no Primeiro Templo.”
E esse ensinamento é esclarecido em uma frase do profeta Zacarias.
Ele diz: “Qual de vocês é tolo o suficiente para menosprezar as pequenas coisas?” Ou seja, muitos de nós, talvez porque não estamos cientes da tremenda Luz que existe dentro de nós, acordamos de manhã alguns dias e não nos sentimos tão inspirados ou animados, e fazemos alguma ação de compartilhar ou de conexão. Mas em nossa mente, pensamos que o que estamos fazendo hoje não é muito, e que amanhã vamos acordar e estar mais inspirados ou animados, e que as ações de compartilhar, de conexão e revelação da Luz que então faremos serão incríveis. Esse é o Primeiro Templo; o Primeiro Templo representa a empolgação e a grandeza física e espiritual.
Mas o Criador diz aos israelitas por meio de Ageu: “Vocês não entenderam. As pequenas ações nos dias comuns, as ações neste Templo menor, estão criando uma tremenda quantidade de Luz nos mundos superiores e nos mundos inferiores.” E então, o barulho da batida dos ramos do salgueiro em Hoshaná Rabá é porque Ageu, naquele momento e agora, está nos dizendo: “Não se engane com sua pequena existência. Não se engane com suas pequenas ações, assim como não devemos nos enganar com um Templo menor e com uma experiência menor de conexão espiritual.” O Criador diz aos israelitas naquele momento, e a nós agora, que a Luz revelada no Segundo Templo, que para a maioria das pessoas parecia menor, era na verdade maior.
Eu acho que muitas vezes, o que acontece depois de Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sukot, depois de todo esse tempo e esforço, é que estamos cansados. Então, chegamos ao primeiro Shabat do ano, Beresheet, e tentamos fazer uma conexão, mas estamos meio esgotados e, portanto, não nos sentimos tão conectados porque fizemos muito e, agora, chegamos ao primeiro Shabat do ano cansados.
Mas um dos entendimentos mais importantes que queremos trazer conosco para este novo ano, neste primeiro Shabat, é não cometer o erro que os israelitas cometeram no Segundo Templo e lembrar a profecia de Ageu e de Zacarias: é muita tolice, e vem da falta de clareza e compreensão, menosprezar os dias de pequenas ações e pequenas conexões. Porque se apreciarmos a tremenda Luz que existe dentro de nós, saberemos que, mesmo na menor ação que fazemos e no dia mais comum que vivermos, a Luz revelada está muito além de qualquer coisa que possamos imaginar.
Portanto, ao começarmos esta nova jornada espiritual neste novo ano, queremos nos lembrar o tempo todo de não menosprezar ou subestimar nossas pequenas ações ou pequenas conexões; podemos não ver ou experimentar no momento, mas a quantidade de Luz que vem dos dias comuns e das pequenas ações por causa da tremenda Luz que existe dentro de nós, está muito além de qualquer coisa que possamos imaginar. Se pudermos manter essa clareza, não haverá dias comuns e não haverá pequenas ações. Mesmo as menores ações que fazemos, por causa da tremenda Luz que existe dentro de nós, criam, como o Criador diz, tremenda Luz nos mundos superiores e inferiores. Saber disso e ter clareza sobre isso torna a Luz revelada muito maior.