Em uma das cartas do Rav Brandwein para o meu pai, Rav Berg, fala-se sobre o mês de Áries, Nissan, e de Pêssach, a manifestação da Luz deste mês.

Rav Brandwein faz uma pergunta sobre uma das frases que os kabalistas escreveram há milhares de anos na Hagadá, o Livro da Conexão para o Sêder de Pêssach. Ao falar sobre o pão ázimo, ou matzá, é dito: “Este é o pão ázimo que os israelitas comeram no Egito”.

Rav Brandwein ressalta que alguém poderia pensar que se trata de uma afirmação historicamente imprecisa, porque os Israelitas, se você ler a história como está escrita na Torah, não comeram a matzá no Egito; eles estavam com tanta pressa para sair que tiveram que tirar o pão do forno antes que ele pudesse crescer. Portanto, eles a comeram fora do Egito, não no Egito. Então, por que os kabalistas escreveriam algo há milhares de anos que não parece ser verdade?

Rav Brandwein explica isso compartilhando algo muito bonito, mas também muito importante: não podemos atrair milagres ou Luz avassaladora, que é o que este mês de Áries representa, a menos que nossa consciência já esteja lá. Na verdade, temos que começar a viver essa consciência e essa certeza hoje.

Os Israelitas estavam no Egito, experimentando grande dor e sofrimento, mas não podiam sair enquanto sua consciência também estivesse no Egito. Moisés e Aarão queriam ajudar os Israelitas a sair daquela escuridão, então percorreram todo o Egito, dizendo-lhes: “Sabemos que vocês estão passando por tremenda dor e sofrimento, mas precisamos que saibam que isso vai acabar. Na verdade, vai acontecer tão rápido que se, por exemplo, você tiver pão no forno, ele nem terá tempo de crescer”.

A palavra Pêssach na verdade significa “saltar sobre”. Os kabalistas ensinam que os Israelitas deveriam permanecer naquela situação de dor por pelo menos mais cem anos; no entanto, eles foram capazes de “saltar” sobre ela. No Sefer Yetzirah, o Livro da Formação, Abraão escreve que um dos poderes criados neste mês de Áries é o que se chama de perna direita, que representa a capacidade de saltar. Então, como os israelitas “saltaram” sobre de centenas de anos de dor e não precisaram experimentá-la? De apenas uma maneira, Rav Brandwein conta ao Rav: quando ouviram Moisés e Aarão.

Deve ter sido difícil para eles pensar que depois de mais de cem anos nessa escuridão, as coisas poderiam mudar. Mas Moisés e Aarão continuaram falando com eles e tentando despertar e fortalecer sua consciência para ver a possibilidade de saltar para fora daquela escuridão. E os Israelitas finalmente chegaram a um certo ponto em que disseram: “Nossa certeza é tão forte que vamos começar a comer este pão ázimo já, aqui no Egito”.

Isso é muito importante de entender. Falamos sobre mudar a consciência, que é uma das coisas mais difíceis do mundo de se fazer, e a menos que estejamos trabalhando consistentemente nisso, falando sobre isso e mudando-a, isso nunca vai acontecer. É preciso prática. E foi isso que os Israelitas fizeram. Eles praticaram. Eles estavam no Egito comendo pão ázimo dia após dia e, ao fazê-lo, diz o Ari, estavam na verdade despertando Pêssach.

Eles disseram as palavras para despertar a certeza, dizendo a seus filhos e familiares: “Essa escuridão não precisa durar mais cem anos. Essa escuridão, essa dor, pode acabar agora. Estamos comendo este tipo de pão porque quando o fim da escuridão acontecer, vai acontecer tão rápido que nem teremos tempo para o nosso pão crescer no forno”. E depois de falar dessa consciência e despertar essa consciência, eles tiveram a capacidade de saltar para fora do lugar escuro em que estavam.

Esta dádiva de ser capaz de saltar para fora de um lugar de escuridão agora é o que nos é dado neste mês; esse é o segredo de Pêssach – saltar. E só há uma maneira de criar esse salto, Rav Brandwein diz ao meu pai, Rav Berg. Temos que começar a praticar, em nossas palavras e ações. Temos que falar sobre isso repetidamente até que nossa consciência comece a mudar, e acreditemos e saibamos verdadeiramente que a Luz do Criador virá à nossa vida para nos transformar, para nos tirar dessa escuridão.

A Luz está disponível a todo momento, mas a consciência não está lá para atraí-la.

Por isso, Moisés e Aarão, com toda a sua sabedoria e conexões, e o Criador com toda a Luz, não poderiam despertar o fim daquela dor e escuridão. Eles precisavam que os Israelitas repetissem dia após dia: “Temos certeza que isso vai acontecer. Estamos comendo este pão ázimo agora, porque sabemos que vai ser rápido…não vamos ficar aqui mais cem anos.”

Os Israelitas saltaram. Primeiro saltaram com a consciência, e então, saltaram para fora de cem anos de escuridão. Durante este mês de Áries, cada um de nós pode receber a habilidade de saltar sobre qualquer escuridão que exista. Mas a única maneira de saltar sobre essa escuridão é praticar a consciência – começar a saber, dizer e agir com completa certeza – de que realmente vamos saltar sobre ela.